quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

As orações por Cura segundo a Igreja. (Parte I)

Por Samuel Érico

Sempre presente em toda a história da Salvação, as curas tem uma presença certa nas comunidades cristãs. Mas o que dizer sobre a moda das religiões modernas, de supervalorizarem as curas? Moda essa que já está presente na Igreja de Cristo, Una, Santa, Católica e Apostólica. Encontramos no site do Vaticano dois textos importantíssimos sobre o assunto. O primeiro da Congregação para a doutrina da fé, do então Cardeal Joseph Ratzinger, INSTRUÇÃO SOBRE AS ORAÇÕES PARA ALCANÇAR DE DEUS A CURA. E o segundo é do Pontifício conselho para Unidade dos Cristãos, Conferencia de Juan Usma Gómez, a saber, A CURA PARA PENTECOSTAIS E CATÓLICOS.
Como sempre procuramos fazer nesse blog, tentaremos não expor opiniões pessoais sobre o assunto, mas fazer análise das situações segundo as definições da Santa Igreja, Mãe e Mestra da Verdade, e mostrar aplicações práticas a elas.
Começaremos com a Instrução da Congregação para a doutrina da Fé, aprovada pelo Papa João Paulo II:
“A oração que implora o restabelecimento da saúde é, pois, uma experiência presente em todas as épocas da Igreja e naturalmente nos dias de hoje. Mas o que constitui um fenômeno sob certos aspectos, novo é o multiplicar-se de reuniões de oração, por vezes associadas a celebrações litúrgicas, com o fim de alcançar de Deus a cura. Em certos casos, que não são poucos, apregoa-se a existência de curas alcançadas, criando assim a expectativa que o fenômeno se repita noutras reuniões do género. Em tal contexto, faz-se por vezes apelo a um suposto carisma de cura.”
“Essas reuniões de oração feitas para alcançar curas põem também o problema do seu justo discernimento sob o ponto de vista litúrgico, nomeadamente por parte da autoridade eclesiástica, a quem compete vigiar e dar as diretivas oportunas em ordem ao correto desenrolar das celebrações litúrgicas.”
Já de início, percebe-se uma certa prudência da Igreja, seja do ponto de vista do discernimento desse “suposto carisma de cura”, seja sob o ponto de vista Litúrgico.
Em seu primeiro capitulo a Instrução vem explicar a importância das doenças e da Cura na Economia da Salvação e seus significados, e diz “O homem é destinado à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas de sofrimento e de dor”. E em seguida vem tratar do desejo da cura e da oração para alcançá-la, e sobre isso fala: ”Não só é louvável a oração de todo o fiel que pede a cura, sua ou alheia, mas a própria Igreja na sua liturgia pede ao Senhor pela saúde dos enfermos. Antes de mais, tem um sacramento ‘destinado de modo especial a confortar os que sofrem com a doença: a Unção dos enfermos’.” O terceiro ponto a ser abordado, ainda nesse primeiro capítulo é sobre o carisma de Cura no Novo Testamento, e explica: ”Não só as curas prodigiosas confirmavam o poder do anúncio evangélico nos tempos apostólicos; o próprio Novo Testamento fala de uma verdadeira e própria concessão aos Apóstolos e aos outros primeiros evangelizadores de um poder de curar as enfermidades em nome de Jesus”. Vem tratar ainda sobre as orações para alcançar de Deus a cura na Tradição: ”Os Padres da Igreja consideravam normal que o crente pedisse a Deus, não só a saúde da alma, mas também a do corpo.” “O mesmo Padre da Igreja (Santo Agostinho) deixou-nos o testemunho da cura de um amigo, alcançada graças às orações de um bispo, de um sacerdote e de alguns diáconos na sua casa. A mesma orientação se encontra nos ritos litúrgicos, tanto ocidentais como orientais.” E como último assunto a ser abordado pelo capitulo inicial, temos o “Carisma de Cura no Contexto Atual”, o então Cardeal traz explicações muito importantes sobre o tema proposto: ”No que concerne as reuniões de oração feitas com a finalidade precisa de alcançar curas, finalidade, se não dominante, ao menos certamente influente na programação das mesmas, convém distinguir entre as que possam dar a entender um «carisma de cura», verdadeiro ou aparente, e as que nada têm a ver com esse carisma”, e também “Não havendo relação com o ‘carisma de cura’, é óbvio que as celebrações previstas nos livros litúrgicos, se realizadas em conformidade com as normas litúrgicas, são lícitas e até muitas vezes oportunas, como é o caso da Missa pro infirmis. Quando não respeitarem as normas litúrgicas, perdem a sua legitimidade.(grifo nosso) e continua: “Por exemplo, não se deveria pôr em primeiro plano o desejo de alcançar a cura dos doentes, fazendo com que a exposição da Santíssima Eucaristia venha a perder a sua finalidade; esta, de fato, ‘leva a reconhecer nela a admirável presença de Cristo e convida à íntima união com Ele, união que atinge o auge na comunhão sacramental’.
Diante do tema tão atual e valorizado, sobretudo, por essa sociedade hedonista, que visa somente o prazer, e materialista, que esquece que a nossa Esperança está em Jesus Cristo Senhor, fonte da Vida Eterna, e que por esses motivos buscam a Cura de Deus mais até do que o próprio Deus. A Congregação para a doutrina da Fé nos traz algumas disposições preliminares, que devem ser observada, sobretudo pelos movimentos, leigos e membros do Clero que costumam promover tais encontros. Algumas das que normalmente são descumpridas são:
Art. 1 - Todo o fiel pode elevar preces a Deus para alcançar a cura. Quando estas se fazem numa igreja ou noutro lugar sagrado, convém que seja um ministro ordenado a presidi-las.
Portanto deveria se evitar o abuso de leigos estarem presidindo esses encontros em igrejas e lugares Sagrados, a não ser na ausência de um ministro ordenado (não de trata de “ministro de cura”, mas de membro do Clero). O leigo pode faze-lo mas é necessária a preferência a um Clérigo, a não ser em caso de uma súplica lida na Oração da Assembléia, como veremos mais adiante.
Art. 2 - As orações de cura têm a qualificação de litúrgicas, quando inseridas nos livros litúrgicos aprovados pela autoridade competente da Igreja; caso contrário, são orações não litúrgicas.
Art. 3 - § 1. As orações de cura litúrgicas celebram-se segundo o rito prescrito e com as vestes sagradas indicadas no Ordo benedictionis infirmorum do Rituale Romanum.
É necessário observar sempre a importância maior das orações litúrgicas, sem esquecer é claro que nossas orações também sobem ao Senhor.
§ 2. As Conferências Episcopais, em conformidade com quanto estabelecido nos Praenotanda, V, De aptationibus quae Conferentiae Episcoporum competunt do mesmo Rituale Romanum, podem fazer as adaptações ao rito das bênçãos dos enfermos, que considerarem pastoralmente oportunas ou eventualmente necessárias, com prévia revisão da Sé Apostólica.
Art. 4 - § 1. O Bispo diocesano tem o direito de emanar para a própria Igreja particular normas sobre as celebrações litúrgicas de cura, conforme o can. 838, § 4.
§ 2. Os que estão encarregados de preparar ditas celebrações litúrgicas, deverão ater-se a essas normas na realização das mesmas.
§ 3. A licença de realizar ditas celebrações tem de ser explícita, mesmo quando organizadas por Bispos ou Cardeais ou estes nelas participem. O Bispo diocesano tem o direito de negar tal licença a qualquer Bispo, sempre que houver uma razão justa e proporcionada.
Não poderia deixar de frisar a importância do Bispo para orientar suas dioceses sobre o assunto, vale lembrar que as orientações dos mesmos devem ser em conformidade com o que está nessa Instrução.
Art. 5 - § 1. As orações de cura não litúrgicas realizam-se com modalidades diferentes das celebrações litúrgicas, tais como encontros de oração ou leitura da Palavra de Deus, salva sempre a vigilância do Ordinário do lugar, em conformidade com o can. 839, § 2.
§ 2. Evite-se cuidadosamente confundir estas orações livres não litúrgicas com as celebrações litúrgicas propriamente ditas.
§ 3. É necessário, além disso, que na sua execução não se chegue, sobretudo por parte de quem as orienta, a formas parecidas com o histerismo, a artificialidade, a teatralidade ou o sensacionalismo.
Esse último ponto parece bastante difícil de cumprir, principalmente por se achar que a cura parte de um sentimento, e também por influências protestantes na maneira de rezar. É sempre necessário lembrar a Sobriedade da Mãe Igreja, o silêncio nos locais Sagrados. Também é muito salutar que se deixe que o Senhor da Vida venha a realizar as curas, não somos nós quem a realizamos, muito menos pela nossa histeria, artificialidade, teatralidade e sensacionalismo. Que nossa oração suba ao Senhor como incenso, o incenso é suave e não agride o ouvido dos outros. A Fé ultrapassa a Emoção.
Art. 7 - § 1. Mantendo-se em vigor quanto acima disposto no art. 3 e salvas as funções para os doentes previstas nos livros litúrgicos, não devem inserir-se orações de cura, litúrgicas ou não litúrgicas, na celebração da Santíssima Eucaristia, dos Sacramentos e da Liturgia das Horas.
§ 2. Durante as celebrações, a que se refere o art. 1, é permitido inserir na oração universal ou 'dos fiéis' intenções especiais de oração pela cura dos doentes, quando esta for nelas prevista.
As Missas pro infirmis são totalmente diferentes dessas “Missas de Cura”. A pro infirmis está prescrita pelos livros e não incluem orações espontâneas a todo momento, muito menos em "línguas". Já essas de “cura” comumente trazem orações espontâneas em excesso, e até descumprindo as normas sobre histerismo etc. e mesmo que busque-se cumprir as normas, e se faça com sobriedade, ainda assim se torna ilícito que se insira nas Celebrações Eucarísticas, essas orações, e tal prática fere a Unidade da Igreja, conforme o trecho grifado acima.
§ 2. As orações de exorcismo, contidas no Rituale Romanum, devem manter-se distintas das celebrações de cura, litúrgicas ou não litúrgicas.
§ 3. É absolutamente proibido inserir tais orações na celebração da Santa Missa, dos Sacramentos e da Liturgia das Horas.
Não é tão comum, mas acontece de se inserir abusivamente nas orações litúrgicas, essas orações de exorcismo, e ainda pior na Celebração da Santa Missa. Apesar de ser muito raro, acontece.
Art. 9 - Os que presidem às celebrações de cura, litúrgicas ou não litúrgicas, esforcem-se por manter na assembleia um clima de serena devoção, e atuem com a devida prudência, quando se verificarem curas entre os presentes. Terminada a celebração, poderão recolher, com simplicidade e precisão, os eventuais testemunhos e submeterão o facto à autoridade eclesiástica competente
Outro abuso bastante comum, é a falta de devoção causada por músicas que geram dancinhas, por vezes imodéstias, além do uso de instrumentos e ritmos que lembram o rock, que tiram a devoção e concentração, trazendo a emoção e o sentimentalismo a tona, em detrimento da prudência. Há sempre uma necessidade de mostrar as supostas curas de imediato como se o discernimento pessoal ultrapassasse a autoridade Eclesiástica, o que gera falta de precisão e de simplicidade já que a cura é quase um troféu a ser exibido a assembleia presente.
Art. 10 - A intervenção da autoridade do Bispo diocesano é obrigatória e necessária, quando se verificarem abusos nas celebrações de cura, litúrgicas ou não litúrgicas, em caso de evidente escândalo para a comunidade dos fiéis ou quando houver grave inobservância das normas litúrgicas e disciplinares.
Pedimos aos Reverendíssimos Bispos que cumpram com suas obrigações e, portanto, verifiquem e corrijam os abusos comumente cometidos no Brasil. E o pedimos, não com o intuito de acabar com tais orações, mas que as mesmas sejam feitas em conformidade com as normas, sem que seja ferida a Unidade da Santa Igreja Católica, já tão maltratada por nossas falhas.
Todos os grifos são nossos.
Para ler a instrução na íntegra:

Na parte II trataremos sobre o texto do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos.
Para citar esse artigo:
SOUSA, Antônio Samuel Érico de. As orações por Cura segundo a Igreja (Parte I) In: <http://perecclesiaeunitate.blogspot.com/> 03.02.2011

Samuel Érico tem 21 anos, é noivo, acadêmico do Curso de Graduação em Administração pela Universidade Potiguar, a 8 anos teve uma experiência com Deus através da Renovação Carismática Católica, atualmente é membro da Comunidade Mariana Totus Tuus que tem como missão propagar no mundo verdadeira devoção a Santíssima Virgem, exerce seu apostolado Católico dando formações sobre temas diversos da Santa Igreja, junto com alguns amigos se dedica ao estudo informal da Doutrina da Igreja, em especial no que diz respeito a Sagrada Liturgia e é co-editor deste blog.

2 comentários:

  1. agradeço a DEUS por ser católico e a vocês por tantos esclarecimentos dos cantos da santa missa sobre oque e cura e tanbem sobre as vestes litúrgicas assunto a qual todos nós devemos estar cientes para melhor professar a nossa fé

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  2. Pena que não sabemos seu nome, mas ficamos felizes pela sua participação, e por esse Blog servir de esclarecimento sobre alguns aspectos da Nossa fé e sobre assuntos que são necessários ao nosso culto Litúrgico.

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