sábado, 27 de março de 2010

E se a Campanha da Fraternidade se chamasse Campanha da Conversão?


            Essa não é primeira vez que abordo esse tema nas minhas postagens, não me cansarei de falar, uma vez que todo ano a mesma realidade se repete, o sentido verdadeiro da Quaresma é deturpado e desvirtuado por uma campanha que pode até fazer um certo bem para a sociedade, mas que pouco tem feito nas almas dos fiéis que precisam encontrar na Quaresma um tempo favorável de conversão, oração, jejum e penitência. Este tem é acima de tudo um tempo para se falar e pensar em realidades do Céu e não em temas secularizados e que, em muitos casos, camuflam certas intenções comunistas.


            Aqui na blogsfera, eu não sou o primeiro nem serei o último a me manifestar a respeito da CF, já li bons artigos e vi bons vídeos que fazem uma leitura crítica que eu chegam a conclusões terríveis a respeito de tal campanha. Destaco os seguintes:
·         Campanha da Fraternidade converte?
·         O Materialismo da Campanha da Fraternidade.
·         Artigo do Puggina: Erros da Campanha da Fraternidade.
            Os apelos e exortações quaresmais já começam na Quarta-Feira de Cinzas, onde somos convidados a rasgar nossos corações e não nos vestes, a nos converter, a crermos no Evangelho, a lembrarmos de que somos pó e para pó nós voltaremos. Esses apelos são, em muitos casos, deixados em segundo plano, uma vez que o tema subjetivo, fraco e nada espiritual da CF passa a ocupar um lugar de destaque na celebração, isso repete em todas as outras celebrações dominicais até a Missa do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, onde sempre tem alguém para te lembrar: “Hoje é o dia da Coleta Nacional. Trouxe o dinheiro?” Que tristeza ver o dinheiro ocupando um lugar tão importante na cabeça das pessoas no dia que somos convidados a celebrar a entrada triunfal de Nosso Senhor em Jerusalém e sua Paixão e Morte de Cruz. Também não são rara as vezes que ouvimos o Hino da CF ser executado em pleno o Tríduo Pascal, mesmo depois de encerrada a campanha continua fazendo um efeito negativo na Igreja.


            Diretório da Liturgia de 2007, na página 63 diz: “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil promove, todos os anos, durante a Quaresma e Semana Santa, a Campanha da Fraternidade, cuja finalidade principal é promover a evangelização entre os fiéis” e o Senhor nos diz em Mt 7,17.20: “Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. Pelos seus frutos os conhecereis.” A partir disso nos vem à pergunta: Que frutos essa campanha tem dado para evangelização dos fiéis?


            Sonho com o dia em que os padres vão obedecer ao Papa e respeitar a Liturgia, os bispos vão cumprir de fato com sua missão profética, que os leigos vão tomar consciência de sua missão e cooperar com os pastores, o dia em que utopia comunista - repudio a ideia de chamar isso de teologia - vai perder força dentro da e Igreja e que “Campanha da Fraternidade” vai se chamar Campanha da Conversão.


Para citar este artigo:


SILVA, Igor Ramon. E se a Campanha da Fraternidade se chamasse Campanha da Conversão? In: <http://perecclesiaeunitate.blogspot.com/> 27.03.2010


Igor Ramon tem 19 anos, é acadêmico do Curso de Graduação em Administração pela Faculdade Mater Christi,  faz parte Renovação Carismática Católica da Diocese de Mossoró a 4 anos, onde exerce Ministério de Pregação e Formação, é coordenador diocesano do Ministério de Liturgia desse movimento, junto com alguns amigos se dedica ao estudo, ainda que informal, da Doutrina da Igreja, em especial no que diz respeito a Sagrada Liturgia, também se dedica a edição e publicação de artigos em blogs.

sábado, 6 de março de 2010

Uma análise da CFE 2010

Por Jorge Ferraz

Ano passado, eu escrevi um post onde eram apresentadas algumas estatísticas sobre o texto-base da Campanha da Fraternidade de então. Este ano, agora que a CNBB disponibilizou a versão eletrônica do texto da CF/2010, eu posso fazer a mesma coisa.
As oitenta páginas do referido documento podem ser baixadas aqui, no site da CNBB. Ao contrário de certas análises de conjunturas que andam circulando internet afora, até onde me conste este é um documento oficial da Conferência, sim.
Eis aqui as estatísticas. A metodologia utilizada é trivial: a caixa de pesquisa do Acrobat Reader. Quando as expressões aparecem “puras”, é porque a busca foi feita por elas ipsis litteris; quando aparece “e derivados”, é porque consultei pelo radical (p. ex., ‘arrepend’, o que engloba tanto ‘arrependimento’ quanto as formas verbais ‘arrependei-vos’, ‘arrependi-me’, ‘arrepender’, etc.).
Os resultados são os seguintes:
  • “Jesus”: 37 ocorrências (“Nosso Senhor”, uma única ocorrência, na oração da CFE).
  • “Católica” e “católicos”: 8 ocorrências.
  • “Conversão” (e derivados): 7 ocorrências.
  • “Oração”: 5 ocorrências (sendo duas vezes no título “oração da CFE 2010″, a do índice e a da página correspondente).
  • “Caridade”: 4 ocorrências.
  • “Esmola”: 3 ocorrências.
  • “Pecado” (e derivados): 2 ocorrências.
  • “Jejum”: 2 ocorrências (e recomendo que vejam quais são!!).
  • “Virgem Maria” (a pesquisa foi feita por “Maria”): 2 ocorrências (“Nossa Senhora”, nenhuma).
  • “Arrependimento” (e derivados): 2 ocorrências.
  • “Sacramento”: 2 ocorrências.
  • “Papa”: 2 ocorrências.
  • “Magistério”: 1 ocorrência.
  • “Penitência”: nenhuma ocorrência.
  • “Eucaristia”: nenhuma ocorrência.
  • “Missa”: nenhuma ocorrência.
  • “Sacerdote”: nenhuma ocorrência.
  • “Calvário”: nenhuma ocorrência.
  • “Cruz”: nenhuma ocorrência.
  • “Trindade”: nenhuma ocorrência.
  • “Santificação”: nenhuma ocorrência (“santificar” tem duas, no comentário sobre o Pai Nosso).
  • “Redenção” (e derivados): nenhuma ocorrência (“Redentor” aparece uma única vez, numa nota de rodapé, em referência – pasmem! – a um livro sobre Martin Luther King, chamado “O Redentor Negro”! Está à página 55).
  • “Confissão” (sacramento): nenhuma ocorrência (há duas referências a “confissão”, na expressão “Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil”, com as maiúsculas por conta da CNBB).
Em contrapartida:
  • “Economia (e derivados): 142 ocorrências.
  • “Solidariedade” (e derivados): 81 ocorrências.
  • “Pobre” (e derivados): 75 ocorrências.
  • “Direito(s)”: 74 ocorrências.
  • “Terra”: 64 ocorrências.
  • “Trabalho”: 56 ocorrências.
  • “Social” (e derivados): 54 ocorrências.
  • “Política” (e derivados): 39 ocorrências.
  • “Mercado” e “Mercadoria”: 30 ocorrências.
  • “Desenvolvimento”: 29 ocorrências.
  • “Povo”: 27 ocorrências.
  • “Miséria”: 12 ocorrências.
  • “Exploração” (e derivados): 11 ocorrências.
Isto é sintomático. No segundo grupo, a palavra que menos aparece é “exploração”; mesmo assim, ela aparece mais do que todas as palavras do primeiro grupo, à exceção de “Jesus”. E até mesmo “política” aparece mais do que “Jesus” neste documento!
Coisas absolutamente fundamentais para qualquer texto que se pretenda servir para o tempo quaresmal, é inexplicável a total ausência de palavras como “Missa”, “Eucaristia” e “Confissão”. Que espécie de preparação para a Páscoa pode ser feita sem que se fale na Santa Missa? Sem que se fale em comunhão eucarística, em confissão dos pecados, em arrependimento? Sem que se fale na Virgem Santíssima? A conclusão é inevitável: este texto não serve para a Quaresma. Não pode servir, porque não trata de temas espirituais. Fica perdido no naturalismo, na horizontalidade, na materialidade estéril – e passa longe das necessidades espirituais dos fiéis católicos.
A julgar por este texto-base, parece ser opinião da CNBB que a Igreja deve, durante a Quaresma, falar mais em exploração do que em oração. Deve falar mais em miséria do que em pecado. Mais em trabalho que em conversão. Mais em política do que em Nosso Senhor.
E isto é muito triste. Se o sal perde o sabor, para quê ele servirá? Até quando suportaremos esta campanha da materialidade, que nega toda a riqueza espiritual do tempo da quaresma, soterrando a piedade católica sob uma profusão de temas naturalistas estéreis? Usquequo, Domine…?